O momento político pelo qual passa o país não pode ser analisado restringindo-se apenas a uma análise sociológica das últimas eleições municipais e nem mesmo a uma análise fragmentada do golpe pelo qual passamos. Os dois episódios estão concatenados com toda uma construção muito bem arquitetada. Em maio último tocamos nesse tema na postagem a construção do golpe com o didático artigo de Maria Inês Nassif.
O último embate dos construtores do golpe desta etapa, não se encerra com a acachapante derrota das esquerdas no último domingo. Há ainda o objetivo central de tirar Lula do páreo e, para isso, as cartas serão jogadas com o baralho marcado que conhecemos. Mas esse é o último embate apenas desta etapa. Os setores conservadores tentarão com este êxito momentâneo que tiveram, sedimentar todo o caminho que os trouxeram até aqui e, para isso, contarão com o domínio da narrativa, esta que nasce e se perpetua no oligopólio da mídia nacional tão escandalosamente definida por suas escolhas políticas. A outra perna dessa sedimentação é o sistema jurídico que, de certa forma, já no seu nascedouro, fornece mais espaços para que a formação de juízes e desembargadores sejam das classes sociais mais abastadas, resultado da histórica desigualdade social brasileira. Neste momento da nossa história, a chamada "República de Curitiba" é o símbolo mais acabado do corpo jurídico que pretende definir os rumos do país.
Tanto a narrativa quanto as esferas jurídicas que temos, são fruto da ainda distante consolidação da nossa democracia como também dos rescaldos da bipolarização ideológica do mundo, encerrada, ou modificada, com a queda do Muro de Berlim. O que prevalece hoje no mundo é a cultura neoliberal (ou, para alguns, "pós-moderna") que atinge mais intensamente onde há maior vulnerabilidade das condições sociais das populações de países como o Brasil.
Em pelo menos 10 dos últimos 13 anos, o Brasil viveu uma condição de ascensão social que - é a crítica que se faz - criou consumidores mas não criou cidadãos. Mas construir a condição de cidadania demanda um tempo maior do que 10 ou 12 anos. E este tempo maior e necessário foi agora interrompido. Não é muito fácil que o indivíduo mais fragilizado compreenda que na seletividade do mundo neoliberal, ele largará sempre em desvantagem e será responsabilizado pelo seu eventual fracasso. Este campo é o da individualização do sucesso e do fracasso. Mas a cultura do neoliberalismo faz mais do que isso. Ela cria numa camada significativa da sociedade, indivíduos que tem como um bem, a projeção do sonho de consumo dos produtos das classes abastadas e, mais do que isso, o desejo íntimo de ser aquilo que ele não é. Isso talvez explique, em partes, a vitória de João Dória nas periferias de São Paulo. Há toda uma espetacularização arquitetada em torno do consumo. E isso se projeta como poeira em todas as camadas da sociedade.
Guy Debord escreveu o livro "A sociedade do espetáculo" em 1967 e impressiona como o livro é atual. Debord elabora teses onde a constituição da realidade se faz através de espetáculos. Através deles, é possível estabelecer a modificação e inversão de valores em intervenções nos âmbitos da ordenação cultural, econômica, política e social. Diz Debord que "...Toda a vida das sociedades em que dominam as condições modernas de produção aparece como uma imensa acumulação de espetáculos" e, em outro momento "(...) à medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário. O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que finalmente não exprime senão o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guardião deste sono".
O espetáculo não cessará. As formas de enfrentá-lo, segundo Debord, devem se basear no enfrentamento da vida moderna. (Achei este interessante e sintético artigo escrito por José Aloise Bahia, que dá mais conta do trajeto pensado por Debord).
Por fim (ou por agora), vivemos um momento histórico em que penso ser imprescindível que as esquerdas tenham uma nova compreensão. Engana-se quem pense que o ataque dos setores conservadores - que se sintetiza no convênio jurídico-midiático -, é direcionado ao PT. É mais do que isso. Ele é direcionado, não tenhamos dúvidas, às esquerdas de uma maneira geral. No que se refere ao PT, é cortar a árvore. No que se refere ao Psol, por exemplo, é cortar o "mal" pela raiz. Essa compreensão é fundamental para que as esquerdas não sejam engolidas pelo buraco negro fabricado por esse convênio. A união das esquerdas é, mais do que um fundamento, uma razão (pós) moderna de existência.
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domingo, 9 de outubro de 2016
domingo, 21 de agosto de 2016
exercício de imaginação
O convênio jurídico-midiático-oposicionista aguarda a decisão final sobre o mandato da presidenta Dilma Roussef, e, enquanto isso, segue firme com o grande plano de inviabilizar uma futura candidatura do ex-presidente Lula. E todos os esforços estarão concentrados não apenas para colocar a sua candidatura na condição de inelegibilidade, mas, sobretudo,
para colocá-lo na prisão, criando o "registro imagético" - como já nos ensinou Guy Debord no atualíssimo livro "Sociedade do Espetáculo" de 1967 -. As lentes midiáticas já estão prontas à espera da cena. O criminoso já foi identificado. Basta agora encontrar um crime.
Seria tudo muito mais simples se fosse o ex-presidente que estivesse envolvido em algumas dessas situações que este empório, num exercício de imaginação, recorda. Exercitemos, assim, com sinais trocados, a nossa imaginação:
negócios de família
se fosse filha do Lula
delação
fazenda em osasco
disneylandia
em são conrado
outro
para colocá-lo na prisão, criando o "registro imagético" - como já nos ensinou Guy Debord no atualíssimo livro "Sociedade do Espetáculo" de 1967 -. As lentes midiáticas já estão prontas à espera da cena. O criminoso já foi identificado. Basta agora encontrar um crime.
Seria tudo muito mais simples se fosse o ex-presidente que estivesse envolvido em algumas dessas situações que este empório, num exercício de imaginação, recorda. Exercitemos, assim, com sinais trocados, a nossa imaginação:
- Empresa de concessão pública paga mensalidade de amante de Lula que vive na Europa.
- Irmã de ex-amante de Lula é funcionária fantasma em gabinete de senador do PT.
- Camargo Corrêa constrói pista de pouso ao lado de fazenda de Lula em Buritis. Pista só é usada pela família do presidente.
- Filha de Lula é sócia do homem mais rico do país.
- Dona de empresa de e-commerce em sociedade com irmã de Daniel Dantas, filha de Lula expôs dados bancários de 60 milhões de brasileiros.
- Após processo de privatização do setor petroquímico, filho de Lula vira sócio de offshore sediada no Panamá.
- Lula tem agropecuária em sociedade com seus filhos em Osasco, cidade sem área rural.
- Filho de Lula, homem da Disney no Brasil, é proprietário de rádio em São Paulo.
- Helicóptero da família de Lula é apreendido com 450 Kg de cocaína.
- Primo de Lula controla quem pode entrar no aeroporto próximo a fazenda do ex-presidente.
- Deputados confirmam terem recebidos quantia para votarem a favor da emenda da reeleição de Lula.
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