Mostrando postagens com marcador manifestações. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador manifestações. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 3 de julho de 2013

"as manifestações", por marilena chaui


As manifestações de junho de 2013 na cidade de São Paulo

por Marilena Chaui

Observações preliminares

O que segue não são reflexões sobre todas as manifestações ocorridas no país, mas focalizam principalmente as ocorridas na cidade de São Paulo, embora algumas palavras de ordem e algumas atitudes tenha sido comuns às manifestações de outras cidades (a forma da convocação, a questão da tarifa do transporte coletivo como ponto de partida, a desconfiança com relação à institucionalidade política como ponto de chegada) bem como o tratamento dado a elas pelos meios de comunicação (condenação inicial e celebração final, com criminalização dos “vândalos”) permitam algumas considerações mais gerais a título de conclusão.
O estopim das manifestações paulistanas foi o aumento da tarifa do transporte público e a ação contestatória da esquerda com o Movimento Passe Livre (MPL), cuja existência data de 2005 e é composto por militantes de partidos de esquerda. Em sua reivindicação especifica, o movimento foi vitorioso sob dois aspectos: 1. conseguiu a redução da tarifa; 2. definiu a questão do transporte público no plano dos direitos dos cidadãos e, portanto, afirmou o núcleo da prática democrática, qual seja, a criação e defesa de direitos por intermédio da explicitação (e não do ocultamento) do conflitos sociais e políticos.

O inferno urbano

Não foram poucos os que, pelos meios de comunicação, exprimiram sua perplexidade diante das manifestações de junho de 2013: de onde vieram e por que vieram se os grandes problemas que sempre atormentaram o país (desemprego, inflação, violência urbana e no campo) estão com soluções bem encaminhadas e reina a estabilidade política? As perguntas são justas, mas a perplexidade, não, desde que voltemos nosso olhar para um ponto que foi sempre o foco dos movimentos populares: a situação da vida urbana nas grandes metrópoles brasileiras. (continua em "mais informações")

domingo, 23 de junho de 2013

a pec 37


foto de Maureen Bisilliat
Vamos então à PEC 37. A Proposta de Emenda Constitucional n° 37. Muito  se tem falado e pouco se tem compreendido do que se trata. Algo parecido com o que ocorre com Carlos Drummond de Andrade: todos sabem que existe e até , eventualmente, conhecem um versinho ou outro, mas pouquíssimos o leram de fato.  Nessas manifestações, vi algumas pessoas exibindo cartazes contra a PEC 37. Curioso, perguntava a elas a razão da contrariedade e percebi, na maioria dos casos, que não sabiam nem mesmo do que se tratava. Quando muito, tinham escutado algo como “ela não é boa para o país” ou algo mais contundente ainda: “ela é antidemocrática”. Ora, se a percepção sincera de quem estava nas manifestações era a de que estavam no pleno exercício da democracia, algo que é carimbado como antidemocrático deve ser combatido. Uma espécie de “pensamento de manada”. (continua em "mais informações")

quarta-feira, 19 de junho de 2013

"movimentos sociais na era da internet"

Como disse na postagem anterior, que chamei de “artigo em construção”, cada amanhecer pode nos trazer novas surpresas e talvez a única certeza que temos neste momento, é de que não há certezas no horizonte mais próximo. O movimento toma proporções que escapam ao entendimento, mas por uma mera coincidência, o sociólogo espanhol Manuel Castells que tem se debruçado sobre a questão dos movimentos sociais na era da internet, esteve em São Paulo na semana passada para ministrar uma palestra no evento Fronteiras do Pensamento. A palestra foi no dia 11, dois dias antes da grande manifestação, ferozmente combatida pela polícia do Estado de São Paulo.

O assunto foi tratado por Alexandre Matias do blog Galileu que este Empório reproduz abaixo.



O ponto em comum entre a praça Taksim e avenida Paulista
por Alexandre Matias


O sociólogo espanhol Manuel Castells falou nesta terça-feira em São Paulo sobre esta nova modalidade de manifestação social – que começa na internet e vai para as ruas.

Ao mesmo tempo em que o sociólogo espanhol Manuel Castells falava em mais uma palestra do evento Fronteiras do Pensamento, que aconteceu no Teatro Geo na terça-feira desta semana, em São Paulo, a tensão entre manifestantes contra o aumento da passagem de ônibus e a polícia militar chegava às vias de fato a poucos quilômetros dali, na Avenida Paulista. Não estava alheio ao que acontecia na cidade, ao citar o protesto paulistano como uma das inúmeras manifestações de uma indignação que, nos últimos cinco anos, tem começado em um novo espaço social, a internet, para depois chegar às ruas, em massa.
(continua em "mais informações")

terça-feira, 18 de junho de 2013

sobre as manifestações


foto de Paula Cinquetti
Eu comecei escrever este texto várias vezes, e o faço agora além das 23 horas, quando as manifestações se concentram ainda em frente ao Palácio dos Bandeirantes em São Paulo; em frente da Assembleia Legislativa do Rio; na Praça Sete em Belo Horizonte e em outras tantas cidades do Brasil. Este é sem dúvida, um dia que será objeto das aulas de história no futuro. Até lá, tentaremos entender o que foi isto, e tentar imaginar quais os seus desdobramentos.

Mas me fixo nas imagens, inicialmente, de figuras como o Arnaldo Jabor e o Marco Antonio Villa, que antes da manifestação do dia 13 em São Paulo, já taxavam as manifestações como fascistas. E é importante que o tenham dito, porque foi ali que começamos a entender aquilo que elas realmente não são. E esse é o ponto de partida: precisamos entender esse novo momento.
 

A chamada militância digital se usufrui de ferramentas poderosas que lhe permitem propagar, seja lá o que for:  uma tendência, espontânea ou não, que pode ser bem ou mal articulada, e com lideranças mais ou menos identificadas.  

O Movimento pelo Passe Livre (MPL) parte da questão do transporte, ou menos ainda: foca no aumento da tarifa, que compõe apenas um dos elementos de uma política de transportes. Mas parece claro que esse é apenas a luz de vela de outras luzes que, ainda difusas, mostram outras insatisfações acumuladas, reais ou imaginárias. É preciso entender o que está acontecendo. E o que está acontecendo vai além das reinvindicações pontuais que mudarão conforme as expectativas, expectativas que também mudam com a velocidade do tempo inerente às redes de internet.

Há assim, me parece, pelo menos dois movimentos a serem analisados. O primeiro é a soma das insatisfações representadas nas manifestações, essas que são objetos de políticas públicas. O enfoque ora apresentado é o transporte. E este, num governo de tradição popular como o PT, tem que ser discutido amplamente, alargando os canais, ampliando o debate e trazendo para esta realidade, não a forma – que talvez não caiba mais -, mas o conceito do que foi há vinte anos, o orçamento participativo. Isso significa, identificar prioridades numa perspectiva de ação democrática, mas inserido neste desafio dos movimentos sociais conectados à rede.
O segundo movimento é a busca de um entendimento mais amplo e ainda nebuloso que está além das ações efetivas de políticas públicas, que é a mudança muito rápida do avanço das tecnologias digitais que tendem a dissipar, ou colocar em outro plano, o monopólio da imagem e da comunicação. Em que medida e como isso mudará as interlocuções e em que campo caberá o debate (virtual?) com uma juventude, ainda que participativa, desideologizada ?

(Bom, agora é 01h:08 e talvez com o amanhecer este artigo em construção tenha envelhecido)