como o cão que um dia tive
como a palavra interrompida e não dita
como a folha, que seca,
pousa de eterna entre as letras do livro
transitório
como o movimento minimalista da mão que cerca esta taça
como a poeira que penetra e se adensa
no espaço a que não pertenço
porque nele me instalo como transitório
como a partícula, a célula, a bactéria
que se acomodam na não existência do olhar
transitório como a lupa
que amplia o passar
como o passo que não acolhe o caminho
como o rio heráclito
como a relva orvalhada desfalecida ao meio do dia
transitório como a dor sentida
e o amor perdido
transitório como a pausa irrefletida
como o cansaço ora assumido
como a intenção
(não qualquer intenção mas aquela imprudente que se acerca do que não a extrapola,
daquilo que lhe escapa, daquilo que lhe corrompe)
como a matéria não aparente
aquela que transborda
aquela que sucumbe
transitório
como o esteves sem metafísica
como todas as tabacarias
como o ar neblinado e como o tempo não acolhido
transitório
como o interregno
(mais que o interregno: aquilo que não mais sendo, ainda não é)
como a pedra que ensina
a pedra lisa
a pedra áspera
a pedra densa
a pedra de joão
transitório como a queda
transitório como uma vida sem rumo
como as sobras esfareladas
que vão se perdendo
uma
a
uma
uma
a
uma
...
.
.
.
Um comentário:
Me deixou sem fôlego...
Vou precisar reler algumas vezes
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