domingo, 7 de fevereiro de 2010

pra não dizer que não falei de brunelleschi





No final de 2008, o Masp conseguiu se livrar de Júlio Neves, o arquiteto da Daslu, que por 14 anos presidiu desastradamente o museu que conta com um magnífico acervo, um patrimônio de todos. Mas, infelizmente, tamanha a crise a que foi submetido o museu, parece ter espantado a oxigenação possível e necessária que uma bem estruturada oposição poderia ter fornecido, e o continuísmo tomou corpo com a posse do ex secretário de Júlio Neves, o empresário João de Azevedo, que já demonstrou não ter nenhuma vocação para pensar o Masp como uma instituição que formula e estimula o pensamento.
Hoje, a apreciação do acervo fica comprometida porque a iluminação e os arranjos são inadequados e, sobretudo, por uma ambientação contrária ao espírito do prédio. A museografia proposta por Lina Bo Bardi, originalíssima e única no mundo, com o seus cavaletes que se abriam para o vasto salão iluminado por luz natural, numa integração espacial acolhedora e desmitificadora da obra de arte, trazia o entendimento do espaço que está longe do alcance de qualquer entendimento que esta administração do museu possa ter.
O museu tem um conselho que exigiu, pelo menos, o retorno da figura do curador. A tarefa coube ao professor Teixeira Coelho que tem se desdobrado para montar exposições temáticas a partir das obras do museu. Parece, entretanto, que Coelho não pretende discutir o museu tal qual foi pensado pela Lina.
Bom, acabei me empolgando e abrindo esta postagem falando da política do Masp, mas o que eu queria falar era justamente daquilo que foge às ingerências diretas da cúpula do Masp e que escapa da sua mesmice: a área de Serviço Educativo do Masp, coordenada por Paulo Portella Filho, que proporciona um dos melhores programas culturais da cidade.
Trata-se do Curso Introdutório à História da Arte, aberto a todos, e que toma como base, obras do acervo do museu. As aulas são ministradas pelo excelente professor Renato Brolezzi e acontecem, via de regra, todos os primeiros sábados de cada mês.
Neste último sábado, a aula teve como ponto de partida, a obra “Ressurreição de Cristo” de Rafael.
Em mais ou menos duas horas de aula, Brolezzi sempre propõe uma viagem através de contextualizações históricas, geográficas e de artistas referenciais ao artista que é o objeto da aula. Nessa viagem pelo mundo de Rafael, chegamos a Brunelleschi,
Filippo Brunelleschi, o escultor e arquiteto renascentista nascido e morto em Firenze, que iniciou a representação plana de objetos em três dimensões, tornando-se uma referência da estética renascentista.
A sua obra mais importante foi abordada na aula: a abóboda da Catedral de Florença, a Santa Maria de Fiore. Uma obra ousada para a época, tanto pela concepção como pela execução.
A construção da Catedral foi iniciada em 1294 e apenas em 1418 deu-se o início da construção da abóbada, a partir de um concurso no qual Brunelleschi teve o seu projeto escolhido.
O arquiteto pôs em prática um método original para a sustentação da cúpula com base em intrincados cálculos matemáticos e, para a sua realização, projetou e concebeu todo um maquinário que ainda não existia.
Há muitos textos na internet que traçam o perfil e a importância histórica de Brunelleschi. Pincei, sobretudo, dois: o do professor e doutor pela FAUSP Jorge Marão Carnielo Miguel, http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq040/arq040_02.asp e o do Laboratório de Mecânica Computacional vinculado ao Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da USP – Poli (http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/Estruturas/florenca.htm ) que aponta mais para as questões estruturais da obra e seus detalhes.

Já estão agendadas as próximas seis aulas. São elas:
06/03: “Retrato do Cardeal Cristoforo Madruzzo”, de Ticiano;
10/04: “Auto-retrato com Corrente de Ouro, de Rembrant;
08/05: “Retrato do Conde-Duque de Olivares” de Velázquez;
12/06: “Pepe Illo fazendo reverência ao touro”, de Goya
07/08: “Juno Ordena a Eolo a Destruição da Frota de Enéias", de Delacroix.

Observação final: a aula pode terminar com a visitação da obra mencionada. Ocorre que nem sempre a obra estudada está disponível para a visitação, em função do rodízio das obras ao qual o museu está submetido. A “Ressurreição de Cristo” de Rafael, por exemplo, não estava exposta.