quinta-feira, 23 de agosto de 2018

egberto gismonti - 70

O editor deste blog não é especialista em música. Aliás, não é especialista em nada. Mas é enxerido que é uma barbaridade. Dito isso, mudemos o verbo para a primeira pessoa.
Em relação à música me coloco na condição de ouvinte. Digamos que um bom ouvinte e daqueles em que uma definição de uma vida sem música implicaria no aprofundamento da nossa pobreza humana.
 A motivação de escrever este texto surgiu da experiência de ter assistido ao espetacular show pensado, desenvolvido e apresentado por Gaia Wilmer - de quem nunca tinha ouvido falar - realizado ontem, 22 de agosto de 2018 no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Gaia é uma jovem compositora, arranjadora, saxofonista e produtora musical e montou o projeto "Egberto 70", segundo ela "para essa celebração, como um ato de amor e respeito à obra de Egberto Gismonti". Para tanto, Gaia reuniu 19 excelentes instrumentistas em que pôde criar novas roupagens para algumas das músicas de Gismonti. O resultado é de um primor excepcional, que causou comentários ao final do espetáculo, pelos corredores e escadas do CCBB como "o que foi isso que nós vimos aqui hoje?", ou "histórico!", ou "espetacular!", comentários envolvidos pela emoção.
Egberto Gismonti de cima dos seus 70 anos merece, de fato, ser celebrado. O músico, com um domínio extraordinário e incomum de vários instrumentos, um pesquisador obsessivo pela história da música, um compositor irrequieto e com experimentações que percorreram desde músicas indígenas até o dodecafonismo, acabou sendo pouco compreendido naquele Brasil do início dos anos 70 do século passado, período em que embarcou para Europa. Foi na Alemanha que grande parte da sua obra foi gravada o que dificultou por anos a sua divulgação no Brasil em um período em que os discos importados eram muito caros.
Hoje Gismonti é um dos raros músicos que detém o direito da sua obra, sendo o proprietário das matrizes dos seus fonogramas. E, por isso, contou-nos no show que disponibilizará gratuitamente toda a sua obra o que inclui os discos, os dvds e também as partituras.
 No show de ontem, além dos 19 músicos, tiveram participações mais do que especiais de Bianca Gismonti, Jaques Morelenbaum e Mauro Senise, além da presença iluminada de Egberto Gismonti, não só tocando, mas, como lhe é de costume, conversando com o público com sua fala mansa e poética.
 O evento que já passou por Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, tem em São Paulo mais duas apresentações nos dias 24 e 25/08, em princípio sem a participação direta de Gismonti, mas com as participações especiais de Gabriel Grossi, Jaques Morelenbaum e Yamandú Costa no dia 24 e André Mehamari, Ricardo Herz e mais uma vez Jaques Morelenbaum no dia 25.
 O Brasil é um país de contrastes, e não só na vergonhosa distribuição de renda, uma das piores do mundo. Por estas bandas, ao mesmo tempo e espaço, em que são produzidos anões morais que se aboletam no judiciário, no congresso nacional, na elite econômica, surgem gênios que nos fornecem luzes que nos permitem caminhar na escuridão. Um deles é, sem dúvida, Egberto Gismonti.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018