quarta-feira, 31 de outubro de 2018

domingo, 28 de outubro de 2018

um dia trágico

O país foi sendo empurrado para a beira do precipício e hoje despencou queda abaixo. Todos os avisos não foram o bastante. Para praticarem o golpe, o ódio foi disseminado. O monstro do fascismo foi libertado dos buracos e bueiros e agora, solto, as consequências são imprevisíveis.

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Morremos naturalmente a cada minuto, a cada dia. Hoje morro acentuadamente. Não convivo cotidiana e intimamente com ninguém capaz de escolher um neofascista, mas há quem me conheça além do cotidiano e da intimidade que fez essa escolha, bem sei. Pessoas que teriam todas as condições para estabelecerem os filtros necessários para não serem envolvidas por um ódio fabricado. Não perdoo. Há momentos na história em que o perdão acentua a estupidez; institucionaliza a crueldade. Escolheram a violência, agora legitimada. Muita gente vai sofrer, seja na pele, no corpo, diretamente, ou nas consequências construídas das medidas neoliberais, ultradireitistas que acentuam o fosso da desigualdade e promovem a exclusão em massas. O país terá perdas irreparáveis e os cúmplices acordarão amanhã tão satisfeitos quanto estúpidos. Não os perdoou.

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Este empório faz uma pausa para se repensar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

eleições 2018: entre um projeto civilizatório ou a barbárie.

42° mostra internacional de cinema de são paulo

Amanhã, 18 de outubro, tem início a 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo .
Este empório que tradicionalmente acompanha e fornece lacônicos comentários de alguns filmes no "pitacos da mostra", talvez este ano não consiga realizá-la em função de outras atividades e pela coincidência do calendário encaixado entre o primeiro e o segundo turno dessa eleição que coloca o Brasil diante da beira do precipício. Neste momento, a prioridade e a respiração estão mais concentradas em criar pequenas possibilidade que talvez unidas consigam tirar o país da possibilidade da queda precipício abaixo.

De qualquer forma, sugerimos o acompanhamento nos blogs e sites que indicamos na seção "cinema" ao lado, e o do Fernando Oriente aqui.

Dentro do que seja possível, boa Mostra!

terça-feira, 9 de outubro de 2018

editorial do el pais

A hora do Brasil

Editorial do El Pais
A taxativa vitória do ultradireitista Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno das eleições presidenciais realizadas no domingo, 7, no Brasil coloca o eleitorado diante de uma decisão radical. No segundo turno, previsto para o dia 28 de outubro, já não se trata de escolher entre duas opções políticas diferentes, mas ambas democráticas, e sim entre um candidato que entende e cumpre os padrões de governança das democracias ocidentais e outro que despreza e considera inválido o sistema de liberdades que desde o final da ditadura garante a igualdade e o progresso de 208 milhões de brasileiros.
Bolsonaro, com um discurso abertamente xenófobo, racista, homofóbico e laudatório da ditadura militar (1964-1985) obteve 46% dos votos, muito perto da maioria absoluta que lhe teria outorgado diretamente a chefia do Estado. Fernando Haddad, do histórico Partido dos Trabalhadores (PT), e candidato sucessor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu passar ao segundo turno com 29,3%. Mais preocupante do que os números é o fato de que as falas de Bolsonaro tocaram amplas camadas da população brasileira que veem esse militar da reserva como a solução da profunda crise institucional e econômica que assola o país há quatro anos e pelas quais culpa exatamente o PT.
A diferença de votos entre os dois é grande, mas não intransponível porque o que está em jogo é muito mais do que uma vitória eleitoral. É assim que devem entender a situação tanto os eleitores de qualquer tendência política quanto Haddad, que pelo segundo turno é obrigado a realizar uma exposição integradora e de abertura em relação aos que até domingo eram seus grandes rivais no campo democrático. Sua candidatura já não é somente a do PT e sim a de todos os democratas do Brasil.
Nessa encruzilhada os que foram rivais de Haddad no primeiro turno farão bem em abandonar a exasperante colocação que apresenta o candidato do PT e Bolsonaro como dois extremos comparáveis. Nada mais longe da realidade. Com todas suas polêmicas, problemas, escândalos e processos judiciais, o PT é um partido que na oposição sempre respeitou as regras do jogo democrático, que ganhou três eleições presidenciais de forma absolutamente limpa, sob cujo governo a democracia brasileira se transformou em um exemplo de progresso e que entregou o poder como a lei exigiu mesmo considerando que o procedimento – o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016 – era politicamente ilegítimo. Pelo contrário, o candidato a vice de Bolsonaro fala abertamente em reformar a Constituição de uma forma ilegal – mediante um conselho de notáveis – e justifica a possibilidade de um golpe de Estado se as circunstâncias permitirem, propostas que Bolsonaro rejeitou. O próprio candidato, no entanto, fala abertamente em dar um papel preponderante ao Exército e carta branca à polícia para matar. Não é possível continuar dando pouca importância a declarações inaceitáveis marcando-as como uma estratégia para ganhar eleições. Nem tudo vale.
O Brasil não é a primeira democracia que vive essa situação. A França já passou por isso em 2002 quando Jean Marie Le Pen chegou ao segundo turno. Os franceses, à época, perceberam que a democracia não tem atalhos e votaram em Jacques Chirac. Agora é a vez dos brasileiros

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

egberto gismonti - 70

O editor deste blog não é especialista em música. Aliás, não é especialista em nada. Mas é enxerido que é uma barbaridade. Dito isso, mudemos o verbo para a primeira pessoa.
Em relação à música me coloco na condição de ouvinte. Digamos que um bom ouvinte e daqueles em que uma definição de uma vida sem música implicaria no aprofundamento da nossa pobreza humana.
 A motivação de escrever este texto surgiu da experiência de ter assistido ao espetacular show pensado, desenvolvido e apresentado por Gaia Wilmer - de quem nunca tinha ouvido falar - realizado ontem, 22 de agosto de 2018 no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Gaia é uma jovem compositora, arranjadora, saxofonista e produtora musical e montou o projeto "Egberto 70", segundo ela "para essa celebração, como um ato de amor e respeito à obra de Egberto Gismonti". Para tanto, Gaia reuniu 19 excelentes instrumentistas em que pôde criar novas roupagens para algumas das músicas de Gismonti. O resultado é de um primor excepcional, que causou comentários ao final do espetáculo, pelos corredores e escadas do CCBB como "o que foi isso que nós vimos aqui hoje?", ou "histórico!", ou "espetacular!", comentários envolvidos pela emoção.
Egberto Gismonti de cima dos seus 70 anos merece, de fato, ser celebrado. O músico, com um domínio extraordinário e incomum de vários instrumentos, um pesquisador obsessivo pela história da música, um compositor irrequieto e com experimentações que percorreram desde músicas indígenas até o dodecafonismo, acabou sendo pouco compreendido naquele Brasil do início dos anos 70 do século passado, período em que embarcou para Europa. Foi na Alemanha que grande parte da sua obra foi gravada o que dificultou por anos a sua divulgação no Brasil em um período em que os discos importados eram muito caros.
Hoje Gismonti é um dos raros músicos que detém o direito da sua obra, sendo o proprietário das matrizes dos seus fonogramas. E, por isso, contou-nos no show que disponibilizará gratuitamente toda a sua obra o que inclui os discos, os dvds e também as partituras.
 No show de ontem, além dos 19 músicos, tiveram participações mais do que especiais de Bianca Gismonti, Jaques Morelenbaum e Mauro Senise, além da presença iluminada de Egberto Gismonti, não só tocando, mas, como lhe é de costume, conversando com o público com sua fala mansa e poética.
 O evento que já passou por Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, tem em São Paulo mais duas apresentações nos dias 24 e 25/08, em princípio sem a participação direta de Gismonti, mas com as participações especiais de Gabriel Grossi, Jaques Morelenbaum e Yamandú Costa no dia 24 e André Mehamari, Ricardo Herz e mais uma vez Jaques Morelenbaum no dia 25.
 O Brasil é um país de contrastes, e não só na vergonhosa distribuição de renda, uma das piores do mundo. Por estas bandas, ao mesmo tempo e espaço, em que são produzidos anões morais que se aboletam no judiciário, no congresso nacional, na elite econômica, surgem gênios que nos fornecem luzes que nos permitem caminhar na escuridão. Um deles é, sem dúvida, Egberto Gismonti.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

sábado, 30 de junho de 2018

100 anos de bergman

Direto ao ponto. O Cine Sesc homenageia Bergman no seu centenário:
centenário bergman

sábado, 2 de junho de 2018

todos os paulos do mundo

Paulo José, o grande ator, é, de fato, muitos Paulos. Cada um deles deixou uma marca na dramaturgia e, sobretudo, na cinematografia brasileira. "Todos os Paulos do mundo", filme de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira nos traz esses Paulos: dramáticos, cômicos, poéticos, românticos, políticos. Em tempos de escuridão, como o que vivemos, Paulo José nos acende uma vela.

Alessandra Alves colunista do Cinema em Cena, Carta Capital, detalha mais um pouco da trajetória que desembocou nesse belo documentário.
O link aqui

sábado, 5 de maio de 2018

o eterno retorno e o além do homem

A questão da temporalidade em Nietzsche através do "eterno retorno" e do "além do homem" na interpretação sintética de Oswaldo Giacoia Junior.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

nicolelis: uma entrevista imperdível

É necessário deixar aqui, neste empório, este registro. Esta entrevista do Miguel Nicolelis, ainda que carregada de tristezas, é fundamental para entender a isso que chamamos de Brasil.

domingo, 8 de abril de 2018

a tragédia consolidada / mas o ciclo ainda não se fechou

Foto de Francisco Proner Ramos, jovem
fotógrafo de 18 anos de idade.
Em 11 de junho de 2017 publicamos neste empório o artigo a tragédia brasileira, que procurou contextualizar essa trajetória da guerra em que fomos inseridos, pouco mais de um ano do Golpe parlamentar-jurídico-midiático de maio de 2016 sofrido pelo Brasil na figura da presidenta eleita Dilma Rousseff.
Nesta semana tivemos a consolidação do golpe e, portanto, dessa tragédia brasileira.
A tragédia não se dá tão somente pela prisão do ex-presidente Lula, o maior líder político da história do Brasil. Ela se dá, porque foi o resultado de uma manobra política que  o levou a uma condenação sem provas, que é o que define, na essência jurídica, o autoritarismo. É ainda uma tragédia porque, depois de 21 anos de ditadura em que vivemos - entre 1964 e 1985 -, vínhamos trilhando, com os naturais tropeções, um caminho de busca de um processo de consolidação de democracia e que acaba de ser interrompido. A retomada necessária desse processo será árdua e ainda de consequências imprevisíveis. E não será fácil, porque o ódio fabricado e disseminado pela grande mídia como estratégia política, saiu do controle. O fascismo volta a pisar firme pelas ruas brasileiras com a sua velha desenvoltura perdida há pelo menos três décadas. Não será fácil, ainda, porque as redes de conexões que produziram o golpe, produziram também um pacto de responsabilidade difícil de ser quebrado. O voto estapafúrdio e criminoso da ministra Rosa Weber, afirmando que votaria naquele momento de forma inconstitucional, é a evidência clara desse pacto.


Mas o ciclo ainda não se fechou


Para o enredo do golpe, a destituição da presidenta Dilma era apenas a etapa inicial. O fechamento seria com a decretação de inelegibilidade de Lula ou a sua prisão, e esta tendo, como a cereja do bolo, um cenário midiático: algemado e humilhado em praça pública.
Inelegível, mesmo preso, Lula não está. Sua candidatura será registrada e o TSE é que terá, diante de um quadro político complicadíssimo como este, de impugná-la. E, mesmo impugnada, caberá  recurso ao STF. Mas a disputa real que os executores do golpe terão é outra. Lula se entregou, mas não foi humilhado, porque ele decidiu a hora e como seria a sua chegada em Curitiba. Quando deveria estar preso, por determinação de Sérgio Moro, o ex-presidente estava fazendo um discurso histórico para dezenas de milhares de pessoas nas apertadas ruas do entorno da também histórica sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Um discurso que lembrava a todos que há abstrações, além do corpo, que não podem ser encarceradas.
Neste aspecto, entra um elemento que não pode ser matematicamente planejado. Mesmo com o país dividido e os ânimos cada vez mais acirrados, Lula deve sair desse processo ainda maior do que entrou e isso faz parte das variáveis que os roteiristas do golpe não tinham o poder de decidir.
Lula é, ainda que a narrativa oficial não diga, um preso político.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

um magistrado exemplar

Em um país em que a justiça age de forma a fazer as suas escolhas a dedo, dependendo da condição social, econômica e política do indivíduo, um texto saudosista como este de Milton Hatoum, deveria fazer, mas acaba não fazendo nenhum sentido..., para muitos dos que compõe o nosso corpo jurídico. 

Existe magistrado exemplar?
Não só existe, como conheci essa rara figura. Aliás, raríssima, de dar inveja (data venia) aos mais nobres magistrados. Não sei se era religioso; talvez sim, mas com uma generosa pitada de agnosticismo, que é o sal do niilismo moderno.
Sei que era francês. Eu o conheci nos meus primeiros dias de Paris, no inverno tenebroso de 1978. Passamos uma tarde inteira e uma parte da noite num café da rue Fouarre. Que magistrado incrível! Que exemplo de juiz de instrução, ainda mais neste tempo de privilégios, que há séculos é o tempo brasileiro.
(continua em "mais informações")

quarta-feira, 7 de março de 2018

o idiota tecnológico

Este artigo de Raphael Silva Fagundes, publicado no Le Monde Diplomatique Brasil deste mês, toca num tema que sobrepõe muitas das discussões rasteiras e cotidianas que acabamos travando, muito porque é o que nos sobra discutir. Acima dessas discussões existe um controle sistêmico sobre o comportamento das pessoas que se acomoda nas entranhas dos fios do tecido social. Muitos pensadores já se de debruçaram sobre o tema. Fagundes toma como partida, MacLuhan.
Em vez de reproduzimos o artigo indicamos o seu link abaixo:

o idiota tecnológico...

sábado, 17 de fevereiro de 2018

política com chapéu



Erratas: o vídeo, gravado em fluxo direto ( não sei fazer edição), merece ao menos três correções. (clicando em mais informações)

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

da natureza do golpe

O Brasil, todos sabemos, sofreu um golpe. Mais um na sua história. No dia seguinte ao golpe, a população brasileira acordou, se espreguiçou, bocejou, lavou o rosto, tomou o seu café, iniciou as suas atividades, cada um com os seus problemas, dilemas ou prazeres. Aqueles pobres, aqueles remediados, aqueles abastados... Os desonestos, muitos dos honestos; os que avançam os sinais, qualquer sinal, daqui, dali ou acolá; os clientes, todos os clientes, os inseridos no mercado e os que desejam se inserirem no mercado; os tristes e os alegres; os bons e os maus. 
Pelo dia, o Brasil foi seguindo o seu passo manso, introspectivo, com a calma paciente dos justos, distraídos por não se perceberem injustos. O Brasil atravessou o dia, comendo, bebendo, trabalhando, vagando, gozando, trocando idéias fúteis, inconseqüentes...
”como tá abafado”, “é, vai chover”, “odeio carregar guarda-chuva”, “eu também”, “será que vão prender o homem?”, “acho que sim”, “tem jogo hoje?”

Chegada a noite, os corpos cansados atravessam as portas residenciais, se acomodam nos seus cantos, se aconchegam..., todos aqueles que têm portas residenciais, que têm cantos e que têm a possibilidade do aconchego, e que poderão, depois de um boa noite de willian bonner, descansar para um outro dia, para um novo bocejo, um outro lavar de rosto, um novo café, para os novos dilemas, novos problemas ou novos prazeres. Tudo muito natural. Natural como um golpe.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

deu nisso

Viu só Lula! Você foi inventar de morar em São Bernardo do Campo, justo num lugar marcado pela luta operária...! Tanto lugar para você morar...,Higienópolis, por exemplo, ou Alto de Pinheiros...! Tomar café em padaria?! Onde já se viu...!,tendo a Vila Boim, por exemplo, onde você poderia ler o Le Monde. Ah, mas você não aprendeu o francês. Viu?, tinha que ter estudado mais! Foi inventar de ter uma chacrinha chamada “Los Fubangos”. “Los Fubangos??”, Lula! Aí não dá! E nem mesmo um apartamento no Guarujá você foi capaz de inventar. Mas seria pouca coisa. O bom seria se você tivesse comprado um em Paris. Olha que chique! Tem uma avenida lá Lula, chamada Avenue Foch. Dizem que é linda. Daria para você passear pelas alamedas floridas, pensar na vida, quem sabe até escrever a sua biografia. Foi se meter em vagar pelo Brasil... Falar com gente pobre, sem cultura. Por que você, em vez de ficar rodando pelas estradas, não comprou uma fazenda no coração do Brasil, em Buritis, por exemplo? Você poderia contratar um arquiteto renomado, ver, quem sabe, com a Camargo Correa, por exemplo, se ela não construía para você - um homem de prestígio- uma pista de pouso.
Foi inventar de juntar as consoantes de parte do nome do pai com o nome da mãe pra dar nome pra sua filha. Não seria melhor um nome mais, assim, digamos, normal, como Verônica, por exemplo, ou quem sabe Luciana? Imagina só, se tudo desse certo, ela poderia até virar sócia do homem mais rico do país, já pensou nisso?
Mas você foi inventar tantas outras coisa, Lula... Onde já se viu, você ficar de conversinhas com essa gente da África, essa gente esquisita da América Latina. Foi ainda falar grosso com o Bush, falar com a cabeça erguida com a Merkel. Imperdoável!
E ainda essa coisa de tirar gente da pobreza! Você provou, é verdade, que colocar essa gente no orçamento do Estado, faz girar e impulsionar toda a economia. Mas precisava? Eles já estavam lá quietinhos, acostumados. Os mais abastados estavam ali, tranquilos, não tendo que pensar em dividir espaço em aeroporto. E você foi mexer nisso!
Pensando bem, você tava lá, 50 ano atrás, empregado, numa empresa internacional, torneando peças (olha que bonito: “torneando”); o único problema foi perder um dedo, mas foi o dedo mindinho que não serve pra muita coisa. Batia a sua bolinha, tomava a sua cachacinha, ia ver o Corinthians... Não tava bom? Foi querer lutar pela gente; foi querer ocupar o lugar de quem sempre mandou. Deu nisso!


sábado, 6 de janeiro de 2018

o tempo, que não é de drummond, e a legião de imbecis

Há mais de dez anos publicamos neste empório uma sequência daquilo que chamamos de equívocos literários: textos falsamente atribuídos a grandes figuras da literatura.
Nesta passagem de ano, um poema circulou por todos os lados e foi parar até no elevador do meu condomínio, que é administrado pela tal da Lello. Trata-se do poema intitulado "O Tempo". Acho que muita gente deve tê-lo recebido na sua caixa postal. É aquele que começa assim: "Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, / a que se deu o nome de ano, / foi um indivíduo genial..." e blá, blá, blá.  Atribuíram-no ao coitado do Carlos Drummond de Andrade. A bem da verdade, o poema era até pouco tempo de autor desconhecido mas parece ter um autor já identificado, mas como não tenho certeza, não mencionarei o nome.
Atribuir falsas autorias parece que foi um dos primeiros vícios que a rede estimulou. Em momentos em que o fascismo saiu dos boeiros, como este em que vivemos, essas práticas podem parecer café pequeno, e de fato são: uma pequena imbecilidade diante das imbecilidades perigosas. Mas não há como não lembrar de Umberto Eco que disse, pouco antes de morrer, que "as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis".