Hoje faço um intervalo na poesia, nas artes plásticas, na fotografia, nas músicas.
O Supremo Tribunal Federal me fez lembrar de uma história que sinteticamente relato.
Lá pelo final dos anos 80, conheci na USP uma moça, estudante do curso de história, que não passou a adolescência com os pais. Foi criada por uma tia. Quando criança, presenciou, numa tarde chuvosa, quando brincava no corredor que ligava o seu quarto com a sala, dois homens desconhecidos levarem seu pai e sua mãe. Ela não sabia que seria a última vez que veria o seu pai. A mãe, ela ainda veria mais uma vez, quando a tia a levou em um lugar que parecia ser uma delegacia de polícia. Menina, que carregava sempre com ela um ursinho de pelúcia, pôde perguntar para a mãe o porquê dela estar ali, presa, e não em casa. A mãe, olhando para o ursinho, lhe disse: porque eu queria que todas as crianças pudessem ter brinquedos como você tem.
Esta foi a última lembrança que guardou da sua mãe.
Nunca mais vi essa moça, mas me lembrei muita dela nesta semana em que o STF julgou improcedente os argumentos da OAB de que a Lei de Anistia, promulgada em 1979, não amparava as ações dos agentes da repressão, que torturaram e mataram muitos opositores do regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.
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Sempre procuro colocar imagens nas minhas postagens. Pesquisei algumas fotos que representam a nossa ditadura na internet: aquela famosa da Guerra da Maria Antonia; a foto montada do Vladimir Herzog; imagens do amigo Frei Giorgio Callegari falecido há seis anos carregando ainda as sequelas das torturas que sofreu. Mas resolvi não colocá-las. Acho que aqui, neste momento, as palavras se bastam, inclusive as palavras do Taiguara, que por coincidência, postei, abaixo, em 18 de abril.
A ditadura acumulou muitas vitórias. O STF lhe forneceu a última.
domingo, 2 de maio de 2010
a última vitória da ditadura
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2 comentários:
E Viva a Argentina.
Hoje são julgados e condenados à prisão perpétua alguns torturadores e ex chefes do governo.
Abração.
Pois é caro Antonio, e não é só na Argentina. No Chile e no Uruguai também. Isso nos envergonha e nos diminui.
Grande abraço.
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