sexta-feira, 13 de maio de 2011

"uma informação sobre a banalidade do amor", ou seria "sobre a banalidade do teatro"?

Neste empório, tenho a vantagem de ter a prerrogativa de escolher os filmes, as peças teatrais e os livros sobre os quais rascunho críticas. Quase que invariavelmente escolho apenas aquilo que me causa impressões positivas. Abro uma exceção para “Uma Informação Sobre a Banalidade do Amor”, peça dirigida e encenada por Antonio Abujamra, em companhia de Tatiana de Marca que encerrou a sua temporada ontem em São Paulo, no teatro Eva Herz, na Livraria Cultura.
A peça é de uma integralidade poucas vezes vistas nos palcos brasileiros. Ela é integralmente ruim. São 60 minutos de um equívoco contumaz. A começar pelo texto, ou a tradução, do próprio Abujamra. O texto original é do dramaturgo argentino Mario Diament.
O roteiro pretende discorrer sobre a paixão entre Martin Heidegger e Hannah Arendt. Para aqueles que têm a expectativa de um diálogo com um mínimo de profundidade - já que a proposta é trazer à cena duas das principais figuras da filosofia do século 20 -, se deparam com clichês que talvez não fizessem feio em qualquer folhetim rasgado de uma novela mexicana. Heidegger, um expoente da filosofia da primeira metade do século vinte, flertou com o ideal nazista de Hitler. Arendt, judia, foi perseguida e exilada, primeiro na França (onde foi presa num campo de concentração) e depois nos EUA. O conflito existencial da relação traz enormes possibilidades de abordagem, mas o resultado final apresentou uma relação constrangedoramente adolescente. Constrangedora também são as interpretações. Abujamra está fora de forma e não cabe no papel. Ele, quase sempre estático (e pelo menos nessa noite, com erros freqüentes de texto) não se movimenta com a energia que a fala de Arendt faz supor, de um amante impetuoso. De Marca, por outro lado, comporta-se como uma menina leitora assídua da revista Contigo.
Mas parece que não basta. A peça traz mais surpresas. Ela pretende-se didática, e, em meio aos cinco encontros relatados, surgem imagens projetadas de atores (seriam atores?) que apresentam depoimentos que tentam transformar todo o imbróglio em uma mistura de teatro-cine-documentário. O resultado culmina em mais um constrangimento.
Tamanho mal entendido não poderia terminar de outra forma. Abujamra e De Marca, sentados em um banco de praça, desconfortáveis, preparam-se para o gran finale: se olham e começam, em um slow motion quase interminável, o caminho que selará a peça com um beijo. Nenhum final seria mais adequado.

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