Meu tornozelo ainda precisava de tratamento: alguns ajustes terapêuticos para o meu caminho mais seguro. E estava lá eu, na sala de espera aguardando ser chamado para mais uma sessão de fisioterapia. Apenas eu na sala, quando escuto a campainha. Alguém entra. Levanto a cabeça e vejo um homem, baixinho, roupa meio desgrenhada, na dúvida de qual poltrona se apossar. Alguns minutos em silêncio e aí, meio tímido, solto: “eu tô lendo um livro seu”. Surpreso, ele devolve, “qual?”. “Cinema sem fim”, respondo. O livro que conta a história da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Leon Cakoff , o criador da Mostra e o autor do livro que eu lia naquele momento, ali, sentado à minha frente numa confluência enquadrada de uma sala de espera. Ele, sem espera, me perguntou se eu acompanhava a Mostra e há quanto tempo. “Há muito tempo”, disse, sem precisar. Ele me pergunta sobre filmes. Neste momento fui chamado, mas deu tempo de lembrar do filme Malpertuis (um marco pra mim) que assisti, disse a ele, no Palácio das Convenções. “Do (Harry) Küme!l” disse ele. “Faz tempo hein!”, completou.
Lembrei desse encontro inusitado de três ou talvez quatro anos atrás, é evidente, por conta da triste notícia da morte do Leon nesta sexta-feira, a uma semana da abertura da 35° Mostra.
Outubro é o mês tradicional da Mostra. O acaso escolheu um outubro para subir os créditos, apagar as luzes e cerrar as cortinas para Leon Cakoff.
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