segunda-feira, 27 de maio de 2013

o poeta jaime sabines

por Fabio Riggi
Uns poucos poemas de Jaime Sabines
Jaime Sabines, poeta mexicano, nasceu em 1926 e morreu no fim do século passado. Foi bem dito por Octavio Paz e é dono de uma voz muito peculiar, confessional e avessa a formalidades, que se desenvolveu à margem do prestígio adquirido com a figura pública, enamorado da coloquialidade da morte e do mito, por vezes, da morte do mito.

A brevíssima apresentação a seguir pretendeu acolher esse sentido nos critérios de seleção dos poucos poemas e das respectivas soluções em tradução. A edição que tenho em mãos é da Joaquín Mortiz, 2006, Recuento de poemas 1950 / 1993.

Do mito

Minha mãe me contou que chorei em seu ventre.
A ela lhe disseram: terá sorte.

Alguém me falou todos os dias da vida
Ao ouvido, pausado, lentamente.
Me disse: vive, vive, vive!
Era a morte.

(continua em "mais informações)

Os amorosos
Os amorosos calam.
O amor é o silêncio mais delicado
o mais trêmulo, o mais insuportável.
Os amorosos buscam,
os amorosos são os que abandonam,
são os que mudam, os que esquecem.
Seu coração lhes diz que nunca hão de encontrar,
não encontram, buscam.

Os amorosos andam como loucos
porque estão sós, sós, sóis
entregando-se, dando-se a cada instante,
chorando porque não salvam o amor.
Preocupa-lhes o amor. Os amorosos
vivem o dia, não podem fazer mais, não sabem.
Estão sempre indo,
sempre, por alguma parte.
Esperam,
nada esperam, mas esperam.
Sabem que nunca hão de encontrar.
O amor é o eterno postergar,
sempre o passo seguinte, o outro, o outro.
Os amorosos são insaciáveis,
os que sempre – que bom! – hão de estar sós.

Os amorosos são a hidra da lenda.
Têm serpentes em lugar dos braços.
As veias do colo lhes saltam
também como serpentes para asfixiá-los.
Os amorosos não podem dormir
porque se dormem os comem os vermes.

Na obscuridade abrem os olhos
e cai sobre eles o espanto.

Encontram escorpiões sob o lençol
e sua cama flutua como sobre um lago.

Os amorosos são loucos, só loucos,
sem Deus e sem diabo.

Os amorosos saem de suas covas
trêmulos, famintos,
a caçar fantasmas.
Riem-se das gentes que sabem tudo,
das que amam a eternidade, verdadeiramente,
das que creem no amor com em um lampião a óleo inesgotável.

Os amorosos jogam de pegar a água
de tatuar fumaça, de não ir.

Jogam o longo, o triste jogo do amor.
Ninguém há de se resignar.
Dizem que ninguém há de se resignar.
Os amorosos se envergonham de todo conformismo.

Vazios, mas vazios de uma outra costela,
a morte lhes fermenta por trás dos olhos,
e eles caminham, choram até de madrugada
em que trens e galos se despedem dolorosamente.

Chega-lhes às vezes um cheiro de terra recém-nascida,
de mulheres que dormem com a mão sobre o sexo,
comprazidas,
de correntes de água morna e de cozinhas.

Os amorosos se poem a cantar entre os lábios
uma canção não aprendida.
E se vão chorando, chorando
a bela vida.



Me alegro de que o sol tenha saído depois de tantas horas: me alegro de que as árvores se espreguicem como quem sai da cama; me alegro de que os carros tenham gasolina e eu tenha amor; me alegro de que este seja o dia 26 do mês; me alegro de que não nos tenham matado.
Me alegro de que haja gentes tristes, como essa garota que poderia me querer se não quisesse outro. Me alegro do bem de Deus que me deixa alegrar-me.

Pirlim, Plimplim! Estou alegre: quero sê-lo todo. Não embriagar-me com este copo de tequila, senão curar tua alma. Virar-me de ponta cabeça para que rias. Mostrar a língua para que te aperte a barriga.

Te mordo debaixo da orelha, te ensalivo o mamilo esquerdo, e sei que estou perto de teu coração, certamente.

Veja, dia: vamos ser bons amigos. Não darei nada a ninguém. Serei generoso: ajoelharei-me num canto e estenderei minhas mãos abertas. Que me deem um centavo o sol, o homem que passa, as meninas que vão à escola e até as velhinhas que vêm da igreja. Quero ser bom, como aquele que acaba de sair do cárcere.

Saúde, esqueletos!

 O dia
Amanheci sem ela.
Mal ela se move.
Recorda.

(Meus olhos, mais delgados,
a sonham.)

Que fácil é a ausência!

E nas folhas do tempo
essa gota do dia
resvala, treme.




Que puta merda posso fazer com meu joelho,
com minha perna tão longa e magra,
com meus braços, minha língua
com meus olhos magros?
Que posso fazer neste redemoinho
de imbecis bem intencionados?
Que posso com inteligências putrefeitas
e com menininhas que não querem homem senão poesia?
Que posso entre os poetas fardados
de acadêmicos ou de comunistas?
Que, entre vendedores ou políticos
ou pastores de almas?
Que puta merda posso fazer, Tarumba,
se não sou santo, nem herói, nem bandido
nem adorador de arte,
nem boticário,
nem rebelde?
Que posso fazer se posso fazer tudo
e não tenho ganas senão de olhar e olhar?

Há um modo de que me faças completamente feliz, amor meu: morra.

I. CUBA 65

I

Não sei, a essa altura, como dizer as coisas que sucedem.
Estou um pouco apagado, um pouco triste,
um pouco incrédulo e vazio.
Deixei passar três meses de propósito
para olhar em mim, olhar-te longe,
são e salvo de ti, Cuba caliente.
(Eis aqui o primeiro erro. Não quero ater-me
às palavras nem ao ritmo.
Livre-me Deus de mim
assim como me livrei de Deus.)

Subscrevo o que disse a imprensa reacionária do mundo.
(Assim irá começar.)
Em Cuba há privações, há escassez, não há frangos,
não há vestidos suntuosos nem automóveis último modelo,
há poucas medicinas e muito trabalho para todos.
Subscrevo isso.

Quero aclarar que não me paga as contas o partido comunista,
nem recebo dólares da embaixada norteamericana
(Que bem o estão fazendo os gringos
no Vietnã e em São Domingo!)
Não costumo me meter com a poesia política
nem pretendo abraçar o mundo.
Mas bem sou um burguês acomodado a tudo,
à vida, à morte e à desesperança.
Não tenho hábitos saudáveis
nem aprendi a rir nem a conversar com ninguém.

Sou um pouco de tudo,
e penso que se estivesse em um navio pirata
dariam na mesma o capitão ou o cozinheiro.

 II

“Fome e sede de justiça”
é mais que somente a fome e a sede?

De onde um povo inteiro contrai a barriga?
Porque sim!
De que raiz de rancor,
de quanta injúria,
de quanta revanche represada,
de quantos sonhos postergados
surge da força de hoje?

Porque é necessário dizer isto:
para acabar com a Cuba socialista
há que acabar com seis milhões de cubanos,
há que atravessar a Cuba com uma foice imensa
ou fiscalização em cima das bombas atômicas e os diabos.

(Senhor Presidente Johnson:
afundemos a Cuba
porque a ilha de Cuba navega perigosamente
ao redor da América.)

 III

Quem é Fidel?, me dizem,
e eu não o conheço.

Um noite no litoral uma garota que estava comigo
deu de gritar aos aplausos: “lá vai Fidel,
lá vai Fidel”, e eu vi passar três carros.

Outra vez, durante um jogo de bola,
a gente que gritava:
“não seja um mala, Fidel”
como quem fala a um irmão.
“Veio Fidel e disse...”, diz o camponês.
O operário diz: Veio Fidel.

Saquei em conclusão de tudo isso
que Fidel é um duende cubano.
Tem o dom da ubiquidade,
está na escola e no campo,
na junta de ministros e no abrigo serrano
entre os juncos e as bananas.
Na realidade, Fidel é o nome
do vento que levanta cada cubano.


Del mito
Mi madre me contó que yo lloré en su vientre.
A ella le dijeron: tendrá suerte.

Alguien me habló todos los días de mi vida
al oído, despacio, lentamente.
Me dijo: ¡vive, vive, vive!
Era la muerte.


Los amorosos
Los amorosos callan.
El amor es el silencio más fino,
el más tembloroso, el más insoportable.
Los amorosos buscan,
los amorosos son los que abandonan,
son los que cambian, los que olvidan.

Su corazón les dice que nunca han de encontrar,
no encuentran, buscan.
Los amorosos andan como locos
porque están solos, solos, solos,
entregándose, dándose a cada rato,
llorando porque no salvan al amor.

Les preocupa el amor. Los amorosos
viven al día, no pueden hacer más, no saben.
Siempre se están yendo,
siempre, hacia alguna parte.
Esperan,
no esperan nada, pero esperan.

Saben que nunca han de encontrar.
El amor es la prórroga perpetua,
siempre el paso siguiente, el otro, el otro.
Los amorosos son los insaciables,
los que siempre -¡que bueno!- han de estar solos.
Los amorosos son la hidra del cuento.

Tienen serpientes en lugar de brazos.
Las venas del cuello se les hinchan
también como serpientes para asfixiarlos.
Los amorosos no pueden dormir
porque si se duermen se los comen los gusanos.
En la oscuridad abren los ojos
y les cae en ellos el espanto.
Encuentran alacranes bajo la sábana
y su cama flota como sobre un lago.

Los amorosos son locos, sólo locos,
sin Dios y sin diablo.
Los amorosos salen de sus cuevas
temblorosos, hambrientos,
a cazar fantasmas.
Se ríen de las gentes que lo saben todo,
de las que aman a perpetuidad, verídicamente,
de las que creen en el amor
como una lámpara de inagotable aceite.

Los amorosos juegan a coger el agua,
a tatuar el humo, a no irse.
Juegan el largo, el triste juego del amor.
Nadie ha de resignarse.
Dicen que nadie ha de resignarse.
Los amorosos se avergüenzan de toda conformación.
Vacíos, pero vacíos de una a otra costilla,
la muerte les fermenta detrás de los ojos,
y ellos caminan, lloran hasta la madrugada
en que trenes y gallos se despiden dolorosamente.


Les llega a veces un olor a tierra recién nacida,
a mujeres que duermen con la mano en el sexo,
complacidas,
a arroyos de agua tierna y a cocinas.
Los amorosos se ponen a cantar entre labios
una canción no aprendida,
y se van llorando, llorando,
la hermosa vida.


Me alegro de que el sol haya salido después de tantas horas: me alegro de que los árboles se estiren como quien sale de la cama; me alegro de que los carros tengan gasolina y de que yo tenga amor; me alegro de que éste sea el día 26 del mes; me alegro de que no nos hayamos muerto.
 Me alegro de que haya gentes tristes, como esa muchacha que podría quererme si no quisiera a otro. Me alegro del bueno de Dios que me deja alegrarme.

 ¡Tilín, Pirrín! Yo estoy alegre: quiero hacerlo todo. No emborracharme con este vaso de tequila sino curar tu alma. Pararme de cabeza para que rías. Sacarte la lengua para que te aprietes la barriga.

 Te muerdo debajo de la lengua, te ensalivo el pezón izquierdo, y sé que estoy cerca de tu corazón, ciertamente.

Mira, día: vamos a ser buenos amigos. No daré nada a nadie. Seré generoso: me arrodillaré en una esquina y extenderé mis manos abiertas. Que me den un centavo el sol, el hombre que pasa, las niñas que van a la escuela y hasta las viejecitas que vienen de la iglesia. Quiero ser bueno, como el que acaba de salir de la cárcel.

¡Salud, esqueletos!

El día

Amaneció sin ella.
Apenas si se mueve.
Recuerda.

 (Mis ojos, mas delgados,
la sueñan.)

 ¡Qué fácil es la ausencia!
En las hojas del tiempo
esa gota del día
resbala, tiembla.



¿Qué putas puedo hacer con mi rodilla,
con mi pierna tan larga y tan flaca,
con mis brazos, con mi lengua,
con mis flacos ojos?
¿Qué puedo hacer en este remolino
de imbéciles de buena voluntad?
¿Qué puedo con inteligentes podridos
y con dulces niñas que no quieren hombre sino poesía?
¿Qué puedo entre los poetas uniformados
por la academia o por el comunismo?
¿Qué, entre vendedores o políticos
o pastores de almas?
¿Qué putas puedo hacer, Tarumba,
si no soy santo, ni héroe, ni bandido,
ni adorador del arte,
ni boticario,
ni rebelde?
¿Qué puedo hacer si puedo hacerlo todo
y no tengo ganas sino de mirar y mirar?

Hay un modo de que me hagas compeltamente feliz, amor mío: muérete.

I. CUBA 65

I

No sé, a estas alturas, cómo decir las cosas que suceden.
Soy un poco apagado, un poco triste,
un poco incrédulo y vacío.
Dejé pasar tres meses a propósito
para mirar en mí, mirarte lejos,
sano y salvo de ti, Cuba caliente.
(He aquí el primer error. No quiero atarme
a las palabras ni al ritmo.
Líbreme Dios de mí
igual que me he librado de Dios.)

Suscribo lo que dice la prensa reaccionaria del mundo.
(Así iba a empezar.)
En Cuba hay privaciones, hay escasez, no hay poitos,
no hay vestidos suntuosos ni automóviles último modelo,
hay pocas medicinas y mucho trabajo para todos.
Suscribo esto.

Quiero aclarar que no me paga un sueldo el partido comunista,
ni recibo dólares de la embajada norteamericana
(¡Qué bien la están haciendo los gringos
en Vietnan y en Santo Domingo!)
No acostumbro meterme con la poesía política
ni trato de arreglar el mundo.
Más bien soy un burgués acomodado a todo,
a la vida, a la muerte y a la desesperanza.
No tengo hábitos sanos
ni he aprendido a reír ni a conversar con nadie.

Soy un poco de todo,
y pienso que si fuera en un buque pirata
sería lo mismo el capitán que el cocinero.

 II

“Hambre y sed de justicia”
¿es más que sólo el hambre y la sed?

 ¿De dónde un pueblo entero se aprieta la barriga
por que sí?
¿de qué raíz de rencor,
de cuánta injuria,
de cuánta revancha detenida,
de cuántos sueños postergados
surge la fuerza de hoy?

Porque es necesario decir esto:
para acabar con la Cuba socialista
hay que acabar con seis millones de cubanos,
hay que arrasar a Cuba con una guataca inmensa
o echarle encima todas las bombas atómicas y los diablos.

 (Señor Presidente Johnson:
hundamos a Cuba
porque la isla de Cuba navega peligrosamente
alrededor de América.)

 III

¿Quién es Fidel?, me dicen,
y yo no lo conozco.

Una noche en el malecón una muchacha que estaba conmigo
dio de gritos palmoteando: “ahí va Fidel,
ahí va Fidel”, y yo vi pasar tres carros.

Otra vez, en un partido de pelota,
la gente le gritaba:
“no seas maleta, Fidel”
como quien le habla a un hermano.
“Vino Fidel y dijo...”, dice el guajiro.
El obrero dice: Vino Fidel.

 Yo he sacado en conclusión de todo esto
que Fidel es un duende cubano.
Tiene el don de la ubicuidad,
está en la escuela y en el campo,
en la junta de ministros y en el bohío serrano
entre las cañas y los plátanos.
En realidad, Fidel es el nombre
del viento que levanta a cada cubano.

(Apresentação, seleção e traduções de Fabio Riggi)

 

Nenhum comentário: