Em julho de 2011 escrevi a crítica sobre o filme Cópia Fiel de Abbas Kiarostami. Lembrei deste filme porque o diretor iraniano nos leva a uma viagem que tem como ponto de partida o conceito de "cópia". Este não é o tema de "A grande beleza", filme do diretor italiano Paolo Sorrentino, mas ele foi acusado - é bem verdade que por uma minoria de críticos - de fazer uma cópia, atualizada ( o que seria o único atenuante) de Fellini, sobretudo de A Doce Vida. Bobagem! Isso me parece resvalar em saudosismo reverencial e mitificador ao grande mestre. Fellini não precisa disso.
Sorrentino não esconde em momento nenhum a sua fonte. Nela se alimenta e dela segue seu caminho.
Como escrevo este texto no momento em que o filme já esta saindo de cartaz, muito já foi dito e não há muito a acrescentar, apenas, talvez, uma subjetividade amarga...de que o que Sorrentino nos traz é uma história universal que aponta para o sentido, ou falta dele, da vida.
Em um dado momento o filme se sintetiza e somos lembrados que tudo termina da mesma forma: com a morte, "mas primeiro havia a vida", sempre escondida nas palavras, nas conversas que nos colocam no mundo. "Está tudo sedimentado nos falatórios e rumores", que perpassam nos silêncios, nos sentimentos, nos medos e nas emoções. E tudo envolto pelos "insignificantes e inconstantes lampejos de beleza". Mas depois há "a miséria desgraçada e o homem miserável (...) sepultado sob a capa do embaraço de estar no mundo". É preciso assim, falar, falar, falar até que as palavras não façam mais sentido. Até que a vida se desenlace pelas futilidades cotidianas que nos carregam pelo tempo finito, sem um Deus a nos guiar, aqui sim, como em Fellini, de A Doce Vida.
O "Aparelho humano" é o livro sobre o qual nada sabemos. É o livro que Jep Gambardela, a figura central do filme, escreveu há muito tempo. (O nome parece sugestionar o livro "A Condição Humana" de Hannah Arendt que, coincidência ou não, trata da vida condicionada ao mundo, com todos os elementos que levam o homem a se integrar à esfera pública.). O que sabemos apenas, é que, seja lá do que trate o livro, ele marcou um momento e fez do escritor, de um único livro, o personagem de si mesmo. Aquele que vagueia por Roma como o notívago que desvenda a dualidade da melancolia associada a confortante beleza que a cidade pode conceder.
O filme é belo fotograficamente, e traz uma Roma- personagem do filme -, ainda que decadente, esplendorosa. O simbolismo do moderno apartamento de Jep Gambarlela, que da varanda tem a vista para o Coliseu me parece dizer que o absurdo - nos mesmos moldes de que nos falou Albert Camus - não se prende a uma época; ele faz parte da história da humanidade e neste aspecto, Sorrentino pede licença e se descola de Fellini.
Um filme dos grandes!
sábado, 1 de fevereiro de 2014
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Um comentário:
De fato, um filme dos grandes e grande também é a sua crítica.
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