sexta-feira, 27 de outubro de 2017

pitacos da mostra 2017

Os "pitacos da mostra" é uma seção tradicional deste empório com comentários ( e não necessariamente sinopses) brevíssimos dos filmes que vamos assistindo neste post que é dinâmico. Neste ano, o tempo ( sempre ele) se apresenta mais curto e talvez a seção seja mais enxuta. Boa Mostra!
(a partir de "mais informações")


O Vale das Sombras, de Jonas Matzow ( Noruega, 2017, 91 min) - A história não é o mais importante no filme, mas a sensibilidade como ela é contada. Em uma cena com o menino Aslak em um  barco, a tela se enche de uma sutil e emocionante beleza.

Não sei dizer adeus , de Lino Escalera ( Espanha, 2017, 97 min) - Drama do encontro entre a angustia de uma vida sem sentido com uma outra vida que se aproxima da morte. Um caminho que se perde em 97 minutos.

O jovem Karl Marx, de Raoul Peck ( França, Alemanha, Bélgica, 2017, 118 min) - Marx no seu encontro com Engels até "O Manifesto Comunista". Linear, didático, romanceado, mas importante, sobretudo no período de sombras em que vivemos.

Custódia, de Xavier Legrand ( França, 2017, 93 min) - Obsessão, chantagem, loucura, violência. Armas que Antoine usará contra seu filho Julien e sua ex esposa Myriam. Um retrato de uma sociedade que criamos.

A Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro, de Zeca Brito e Leo Garcia (Brasil, 2017, 90 min) - Extraordinário! O grande e esquecido jornalista Tarso de Castro ressurge nesse documentário necessário.

Canção de Granito, de Pat Collins (Irlanda, 2017, 104 min) - Necessário arrastar as pedras do caminho que o roteiro nos impõe para ouvirmos Joe  Heaney, o grande e sofrido cantor irlandês, mas com imagens belíssimas em p&b e, particularmente uma, com um enquadramento com câmera fixa genial, para ser pendurada numa prateleira da história do cinema e que está no trailer do filme que pode ser visto aqui.

Procurando por Oum Kulthum, de Shirin Neshat (Alemanha, Áustria, Itália, Líbano, Catar, 2017, 90 min) - a diretora de cinema Mitra mergulha na superfície da lendária cantora egípcia Oum Kulthum e percebe que tanto ela quanto Kulthum pertenciam a águas mais profundas.

Human Flow: Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir, de Ai Weiwei ( Alemanha, 2017, 140 min) - Weiwei, um exilado político, nos apresenta essa obra da vergonhosa realidade humana. Um filme necessário, quase que uma enciclopédia dos atuais ciclos migratórios; dos refugiados que se espalham pelo mundo em um fluxo que escancara a certeza de que a experiência humana na Terra não deu certo. Este tema foi ainda mais abordado na Mostra passada ( lembro aqui ). O filme fornece muitas informações entre elas que em 1989, quando caiu o Muro de Berlin, haviam 11 fronteiras com muros ou cercas intimidadoras no mundo. Hoje são 76. O trailer aqui . Imperdível!

Henfil, de Ângela Zoé ( Brasil, 2017, 75 min), da mesma forma que "A Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro", um filme de resgaste e necessário, sobretudo para os tempos sombrios que vivemos.

Happy End, de Michael Haneke (França, Alemanha, Áustria, 2917, 107 min) - Um Haneke menos contundente e visceral, mas ainda mordaz.

Primogênito, de Aik Karapetian ( Letônia, 2017, 90 min ) - Drama psicológico a lá Davd Lynch. Filme intrincado, daqueles que podem ter várias interpretações. Não sei mais o que dizer...

The Square, de Ruben Östlund (Suécia, Alemanha, França, Dinamarca, 2017, 142 min) - Provocador ( o que tem de melhor). Narrativa irregular. Temas (vários, do mundo atual) fragmentados. Muito diferente do excelente Força Maior do mesmo diretor. O filme é pretensioso, exatamente como a arte contemporânea que o filme põe em xeque .  Nesse sentido, The Square parece fazer um círculo que vai da ficção para a vida real: critica  a prepotência da arte contemporânea e talvez pela sua prepotência e extravagância, ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Ganhando o prêmio, virou objeto da sua própria crítica.

Nico, 1988, de Susanna Nicchiarelli ( Itália, Bélgica, 93 min) - Nico, como ficou mais conhecida Christa Päffgen, foi (não a conhecia, descobri em pesquisa após ver o filme) uma daquelas figuras instigantes para ser biografada. Do nascimento na Alemanha no período da Guerra, à modelo em Berlim e Paris, passando por ser a queridinha de Andy Warhol, vocalista do Velvet Underground e mãe de um filho de Alain Delon, merecia um filme contando essa trajetória. A diretora escolheu contar apenas os seus dois últimos anos e, segundo a própria, com interferências dramáticas que não se apresentam na história real . Parece um desperdício.

A Noiva do Deserto, de Cecilia Atán e Valeria Pilato (Argentina, Chile, 2017, 78 min) - Uma bela história bem contada com a ótima Paulina Garcia. Mais uma mostra da excelente cinematografia argentina e também chilena.

Torquato Neto - Todas as Horas do Fim, de Eduardo Ades e Marcus Fernando ( Brasil, 2017, 88 min) - É como se fechasse uma trilogia da Mostra, com os filmes dedicados à Paulo de Tarso e Henfil. Três excelentes documentários que retratam, entre outras coisas, as angústias de uma época e como cada um lidou com elas. No caso de Torquato, ele fechou um ciclo com um "Pra mim chega".

Quando Paul atravessou o mar - Diário de um encontro, de Jacob Preuss (Alemanha, 2017, 97 min) - Outro documentário que trata do tema dos refugiados. Um filme que se construiu na medida do encontro entre o diretor e o refugiado nigeriano Paul. Mais um filme que ajuda na compreensão do mundo que inventamos.

24 Frames, Abbas Kiarostami (Irã, França, 2016, 120 min) - Experiências visuais simples e intimistas que Kiarostami vinha realizando. O filme fica como um documento póstumo, já que ele faleceu antes da montagem final dessas experiências que acabaram se tornando em um longa. Um buraco neste empório foi não ter feito a menção da sua importância para o cinema quando da sua morte mas, evidente, ele está nas nossas prateleiras. Aqui o gênio Kiarostami

2 comentários:

Ricardo disse...

Bons pitacos. Concisos, certeiros e sensíveis.

Gê Cesar de Paula disse...

Obrigado caro Rica pela visita e comentário.