domingo, 8 de abril de 2018

a tragédia consolidada / mas o ciclo ainda não se fechou

Foto de Francisco Proner Ramos, jovem
fotógrafo de 18 anos de idade.
Em 11 de junho de 2017 publicamos neste empório o artigo a tragédia brasileira, que procurou contextualizar essa trajetória da guerra em que fomos inseridos, pouco mais de um ano do Golpe parlamentar-jurídico-midiático de maio de 2016 sofrido pelo Brasil na figura da presidenta eleita Dilma Rousseff.
Nesta semana tivemos a consolidação do golpe e, portanto, dessa tragédia brasileira.
A tragédia não se dá tão somente pela prisão do ex-presidente Lula, o maior líder político da história do Brasil. Ela se dá, porque foi o resultado de uma manobra política que  o levou a uma condenação sem provas, que é o que define, na essência jurídica, o autoritarismo. É ainda uma tragédia porque, depois de 21 anos de ditadura em que vivemos - entre 1964 e 1985 -, vínhamos trilhando, com os naturais tropeções, um caminho de busca de um processo de consolidação de democracia e que acaba de ser interrompido. A retomada necessária desse processo será árdua e ainda de consequências imprevisíveis. E não será fácil, porque o ódio fabricado e disseminado pela grande mídia como estratégia política, saiu do controle. O fascismo volta a pisar firme pelas ruas brasileiras com a sua velha desenvoltura perdida há pelo menos três décadas. Não será fácil, ainda, porque as redes de conexões que produziram o golpe, produziram também um pacto de responsabilidade difícil de ser quebrado. O voto estapafúrdio e criminoso da ministra Rosa Weber, afirmando que votaria naquele momento de forma inconstitucional, é a evidência clara desse pacto.


Mas o ciclo ainda não se fechou


Para o enredo do golpe, a destituição da presidenta Dilma era apenas a etapa inicial. O fechamento seria com a decretação de inelegibilidade de Lula ou a sua prisão, e esta tendo, como a cereja do bolo, um cenário midiático: algemado e humilhado em praça pública.
Inelegível, mesmo preso, Lula não está. Sua candidatura será registrada e o TSE é que terá, diante de um quadro político complicadíssimo como este, de impugná-la. E, mesmo impugnada, caberá  recurso ao STF. Mas a disputa real que os executores do golpe terão é outra. Lula se entregou, mas não foi humilhado, porque ele decidiu a hora e como seria a sua chegada em Curitiba. Quando deveria estar preso, por determinação de Sérgio Moro, o ex-presidente estava fazendo um discurso histórico para dezenas de milhares de pessoas nas apertadas ruas do entorno da também histórica sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Um discurso que lembrava a todos que há abstrações, além do corpo, que não podem ser encarceradas.
Neste aspecto, entra um elemento que não pode ser matematicamente planejado. Mesmo com o país dividido e os ânimos cada vez mais acirrados, Lula deve sair desse processo ainda maior do que entrou e isso faz parte das variáveis que os roteiristas do golpe não tinham o poder de decidir.
Lula é, ainda que a narrativa oficial não diga, um preso político.

Nenhum comentário: