terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Equívocos literários (2)


Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.


Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.

Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de momentos - não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera a continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.



Jorge Luis Borges é um daqueles escritores que é mais conhecido e citado do que propriamente lido. Um poema, no entanto, foi muito lido, tornando, repentinamente popular, o escritor argentino. Trata-se do poema Instantes. Ocorre, apenas (!), que o poema não é de Borges. Quem o conhece minimamente, não se deixaria enganar: Borges nunca escreveria um texto como este. Entretanto, o texto foi espalhado na rede como sendo de sua autoria, por uma dessas razões difíceis de explicar. Há dúvidas quanto à autoria. Já se disse que era de Nadine Stair, uma senhora norte-americana. Mas parece que também não é. O poema não aparecia nas obras completas do autor, mas, ainda assim, foi preciso que a viúva de Borges, Maria Kodama, fosse à justiça, registrar que o poema não era de Borges e que, como herdeira, não receberia pelos direitos autorais.

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