terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Equívocos literários (3)


Da mesma forma que “Instantes”, que comento na postagem abaixo, “Marionete” é um poema em prosa que não guarda nenhuma relação com o autor a quem alguém pretendeu destinar a autoria: Gabriel García Márquez. O que intriga é que os dois poemas tratam do mesmo tema, um olhar histórico e revisionista sobre si mesmo num embalo de mensagem de vida, muito em moda. Borges nunca escreveria “Instantes”; Garcia Marques nunca escreveria “Marionete” e George Bush nunca escreveria Ana Karenina.

Marionete



Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo, e me presenteasse um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, senão pelo que significam. Dormiria pouco e sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.

Andaria quando os demais se detêm, despertaria quando os demais dormem, escutaria enquanto os demais falam, e como desfrutaria de um bom sorvete de chocolate...

Se Deus me obsequiasse um pedaço de vida, me vestiria com simplicidade, me atiraria de bruços ao sol, deixando descoberto, não somente meu corpo, mas também minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração.... Escreveria meu ódio sobre o gelo, e esperaria que saísse o sol.

Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Benedetti,e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos,e o encarnado beijo de suas pétalas...

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer à gente que quero, que a quero. Convenceria a cada mulher e homem de que são meus favoritos e viveria enamorado do amor.

Aos homens provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de enamorar-se quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se enamorar. A uma criança daria asas, mas deixaria que ela aprendesse a voar sozinha. Aos velhos, a meus velhos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi de vocês, homens..... Aprendi que o mundo todo quer viver no alto da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno punho pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem amarrado para sempre.

Aprendi que um homem unicamente tem direito de olhar outro homem de cima para baixo, quando o tiver ajudado a se levantar.

São tantas coisas as que pude aprender de vocês, mas finalmente de muito não haverão de servir porque quando me guardem dentro desta maleta, infelizmente estaria morrendo....



De autor anônimo - Atribuído a García Márquez

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