terça-feira, 18 de junho de 2013

sobre as manifestações


foto de Paula Cinquetti
Eu comecei escrever este texto várias vezes, e o faço agora além das 23 horas, quando as manifestações se concentram ainda em frente ao Palácio dos Bandeirantes em São Paulo; em frente da Assembleia Legislativa do Rio; na Praça Sete em Belo Horizonte e em outras tantas cidades do Brasil. Este é sem dúvida, um dia que será objeto das aulas de história no futuro. Até lá, tentaremos entender o que foi isto, e tentar imaginar quais os seus desdobramentos.

Mas me fixo nas imagens, inicialmente, de figuras como o Arnaldo Jabor e o Marco Antonio Villa, que antes da manifestação do dia 13 em São Paulo, já taxavam as manifestações como fascistas. E é importante que o tenham dito, porque foi ali que começamos a entender aquilo que elas realmente não são. E esse é o ponto de partida: precisamos entender esse novo momento.
 

A chamada militância digital se usufrui de ferramentas poderosas que lhe permitem propagar, seja lá o que for:  uma tendência, espontânea ou não, que pode ser bem ou mal articulada, e com lideranças mais ou menos identificadas.  

O Movimento pelo Passe Livre (MPL) parte da questão do transporte, ou menos ainda: foca no aumento da tarifa, que compõe apenas um dos elementos de uma política de transportes. Mas parece claro que esse é apenas a luz de vela de outras luzes que, ainda difusas, mostram outras insatisfações acumuladas, reais ou imaginárias. É preciso entender o que está acontecendo. E o que está acontecendo vai além das reinvindicações pontuais que mudarão conforme as expectativas, expectativas que também mudam com a velocidade do tempo inerente às redes de internet.

Há assim, me parece, pelo menos dois movimentos a serem analisados. O primeiro é a soma das insatisfações representadas nas manifestações, essas que são objetos de políticas públicas. O enfoque ora apresentado é o transporte. E este, num governo de tradição popular como o PT, tem que ser discutido amplamente, alargando os canais, ampliando o debate e trazendo para esta realidade, não a forma – que talvez não caiba mais -, mas o conceito do que foi há vinte anos, o orçamento participativo. Isso significa, identificar prioridades numa perspectiva de ação democrática, mas inserido neste desafio dos movimentos sociais conectados à rede.
O segundo movimento é a busca de um entendimento mais amplo e ainda nebuloso que está além das ações efetivas de políticas públicas, que é a mudança muito rápida do avanço das tecnologias digitais que tendem a dissipar, ou colocar em outro plano, o monopólio da imagem e da comunicação. Em que medida e como isso mudará as interlocuções e em que campo caberá o debate (virtual?) com uma juventude, ainda que participativa, desideologizada ?

(Bom, agora é 01h:08 e talvez com o amanhecer este artigo em construção tenha envelhecido)

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